Ing Lee
Abertura ao encontro e às misturas
por Dani Maura
Lembro-me de quando nos conhecemos, de você dizer que queria fazer licenciatura e ser professora, e, como desdobramento de nossas conversas de agora, o que me resta são as lembranças de variados pontos em que podemos aprender com você. No mesmo movimento, penso também no que as escolas têm a aprender com os estudantes. Vou chamar esses pontos de exercícios de colagem, considerando a estrutura de pensamento dessa técnica que propicia o encontro entre elementos de diferentes contextos.
Colagem quando consegue somar o seu repertório anterior com as questões trazidas pelos professores na escola de artes.
Quando se propõe a investigar um assunto de escassa bibliografia e se disponibiliza a compartilhar com os professores seu referencial teórico e visual, mesmo sem a garantia de abertura.
Quando integra referências dos quadrinhos, das artes visuais, da cultura tradicional do leste asiático, da cultura de massa, do cinema e mesmo de uma volta pelas cidades em que morou.
A soma de experimentações em técnicas e materiais, integrando tradição, materiais artísticos convencionais e matérias ordinárias e cotidianas, meios analógico e digital, buscando encontrar o que mais tem sintonia com seu pensamento visual.
Quando se propõe a refazer caminhos em busca de uma ancestralidade, pelas memórias familiares, pelo encontro com pares, pelo estudo de geopolítica, numa prática de composição de diferentes aspectos de si mesma.
Cada ponto e a soma deles bastariam para gerar interesse pelo seu modo de pensar. Mas tem uma questão específica que considero importante destacar: o modo como essa estrutura de pensamento pode se manifestar em uma linguagem visual e, mais especificamente, em uma linguagem gráfica. Crio paralelos nas questões sobre singularidade, que traz em sua fala, com o uso que faz das cores: a busca pelo matiz, pelo tom, e as misturas, as somas de camadas de cor da risografia, o modo como a cor se constrói em transparência de texturas, acolhendo os momentos anteriores, e o modo como as somas de camadas resultam na imagem final, num pensamento gráfico, que acolhe o acaso, nos limiares do pictórico.
E se a elaboração de cada cor traz um paralelo com os aspectos de singularidade de cada pessoa, o exercício de composição dos quadros e de composição das cores, no todo final, diz dos encontros, das misturas das diferenças, que, como você diz, não são oposições, é a própria vida em movimento de transmutação.
Ing Lee é quadrinista e ilustradora. Nascida e residente em Belo Horizonte, é coreano-brasileira e surda oralizada. Bacharel em Artes Visuais pela UFMG. Atua no cenário de publicações independentes desde 2016 e faz quadrinhos desde 2018. Co-fundou O Quiabo, selo de publicações independentes e eixo de experimentação gráfica. Bebe de influências do cinema leste-asiático, com enfoque em Novo Cinema de Taiwan, Wong Kar-Wai, Bong Joon-Ho e Naomi Kawase. Em seus trabalhos, propõe-se a trazer questões envolvendo memória, identidade e hibridismo.
Proposta de criação
Narrativas
pesquisa de materiais, narrativa visual, história em quadrinhos, metalinguagem, elementos da linguagem visual
Publicado em 09 de dezembro de 2021