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erre erre

Poderia ouvir, agora, num rumor ou grito, uma sequência de nomes dos seus trabalhos

por Dani Maura

Quase obedecendo a um ritmo, me distraio com os seus cabelos, sinto os movimentos dos pensamentos esculpindo quaisquer cabelos, lembro também da Estamira falando dos cabelos como raios de sol, quase a mesma coisa.

Primeira resposta, tento controlar o que penso a partir do que você diz, será que a sensação de corpo e mundo, de fluxo interior e exterior é uma boa lente para olharmos para outros processos de criação? Uso outras palavras, mas consigo reconhecer as sensações que você descreve. Quem mais por aí começou a criar buscando maneiras de existir?

Começo a prestar atenção também nos seus silêncios, nas esperas pela palavra antes de iniciar uma resposta, faço questão de sustentar alguns deles. Penso nos meus métodos de interação e no quanto eles reforçam uma ideia antientrevista, como, por exemplo, quando faço perguntas que não são perguntas, são falas e ideias despertadas pelas suas respostas. Relato contextos meus, sobre como experiencio as mesmas questões que lhe coloco. Não me controlo em alguns “Han? Han?” e acabo rindo junto. Talvez o meu entendimento de entrevista esteja mais próximo do que se entende por diálogo.

Ao deixar algumas imagens que sua fala traz coexistirem, penso seus silêncios na conversa como uma tradução da sua espera para entender que o tempo do trabalho artístico lhe exigiu guardar e fazer coisas sem motivo aparente, para que só depois elas se encontrassem em algum momento futuro. Lembro da fala do Fuganti, em uma aula que assisti faz umas duas semanas: o tempo é o coração de tudo.

Observo uma linha de pensamento, em que um procedimento artístico se desdobra para as relações do processo de criação, para um modo de vida, e lembro do motivo de ser você o artista convidado para abrir o projeto: uma conversa antiga (o ano passado parece que durou ao menos cinco anos, não é isso?) sobre seu processo de criação e suas produções, em que percebi diversos jogos de escala se desdobrando a partir de conceitos e procedimentos, ou melhor, das forças que lhe impulsionam e do modo como você se relaciona. Durante anos, ao ofertar aulas, pensava em como compartilhar meu processo de criação de modo a acolher questões diversas, deixar os outros com vontade de fazer, e, nesse fazer, descobrirem questões próprias. Na nossa primeira conversa, senti que poderia fazer esse exercício a partir de outros processos de criação, pois, além de pontos de contato mais literais, há recortes de quaisquer processos de criação artística, que são exercícios de abertura, que são propostas de deslocamento, que podem inspirar processos e produtos muito diferentes. Ao menos é assim que percebo. Relatos de processos como o seu me auxiliaram a desdobrar as perguntas escolares: qual é sua poética? Qual é seu conceito? Fortalecendo relações mais radicais: qual é a sua visão de mundo que transparece na produção? Modo de vida? Experiência de tempo?

Também me ligo na sua mudança de ritmo, que transparece pelo tônus, sempre volto para as mãos, a sensação é que cada assunto provoca uma atmosfera que lhe atravessa, preenche os côncavos, redesenha o corpo, a voz. Talvez por isso eu me incomode com falas, palestras, que são leituras de um texto, tudo parece vir de um mesmo fôlego, do ar de um cômodo fechado, para não permitir entrar o barulho de qualquer pensamento improvisado. Aqui, um outro bom motivo para abrir os trabalhos com sua presença: o modo como experiencia o processo, essa busca por uma relação com o agora, que atua como passagem para uma reescrita de todos os fluxos e camadas. Sequer se colocando um objetivo, mantendo uma constante escuta para as coisas pequenas, brincando com o campo do imponderável, num fazer em abertura que nutre a si mesmo.

Lá para o fim da conversa, começo a perceber que cada resposta acontece em camadas, uma volta sobre o assunto, um silêncio... e depois um novo movimento, que passa pelas mesmas forças com outras palavras. Começo a pensar no quanto será difícil escolher uma única espiral-resposta, começo a pensar nas camadas de muitas de suas imagens: o movimento da fala talvez seja o redemoinho de onde elas decantam, ou cada composição é o instante antes do vórtice.

Há uma imagem maior, retangular, disposta na horizontal, dividida em três partes quadradas, todas compostas por uma série de combinações de imagens de tamanhos, formas e suportes variados, justapostos ou sobrepostos. As imagens da parte esquerda e do centro são todas compostas em preto e branco, com diferentes densidades de tinta a óleo. Na primeira parte quadrada, no alto à esquerda, há um céu estrelado mais luminoso, retangular e com orientação vertical; sobre ele, um papel menor, com um céu escuro e uma estrela maior. Ao lado, uma planta de folhas longas em um vaso, composta por linhas pretas finas e grandes matérias de tinta branca. Abaixo, à esquerda, o recorte de uma pequena planta e, mais abaixo, uma folha retangular com quatro olhos, feitos em linhas pretas e grandes densidades de tinta branca em toda a área. Essas duas últimas imagens se sobrepõem a um fundo, que ocupa a maior área dessa parte, impresso em serigrafia, que apresenta uma textura de linhas pretas sobre um papel de cor creme. Na borda direita dessa textura tem um recorte orgânico e, abaixo dele, pinceladas de branco. Na parte central da imagem, um novo céu noturno, retangular, horizontal, com muitas estrelas, com um recorte menor sobreposto com uma estrela maior. Um grande perfil do rosto de uma pessoa aponta para a esquerda, com predominância de cinzas e preto, e traz mecanismos em seu interior, destacando-se os olhos e um mecanismo para a visão. Diante desse perfil há um recorte irregular, de fundo branco, com dois pequenos conjuntos, um em cima do outro, de flores desenhadas com linhas pretas. Sobrepõe-se a uma parte da cabeça do perfil, acima e à direita, um quadrado cor creme, coberto por densas pinceladas de tinta branca, com duas fileiras verticais com quatro olhos cada, desenhados com linhas pretas. Um pequeno recorte em papel branco está sobre o pescoço da figura de perfil. Nele, repete-se, em preto e cinzas sobre branco, uma pequena silhueta em perfil, olhando também para a esquerda. Por fim, na terceira e última parte da imagem, há uma base em tom amarelo, com linhas e áreas em branco e duas formas avermelhadas, que parecem dois castiçais e que tem a sua sombra projetada sobre o plano. No fundo, acima, um céu preto com poucas estrelas brancas. À esquerda, acima, há uma sobreposição de recortes quadrados, e o mais exterior tem um fundo preto com uma estrela branca. Na extrema direita da composição, há o fragmento de uma colagem de um desenho de planta com linhas pretas sobre fundo branco.
Aprender a aprender, 2018.
Tinta à óleo, spray, carvão, guache, nanquim grafite, xerografia, serigrafia e risografia s/ papel; tinta à óleo, spray, grafite xerografia, xilografia e colagem s/ madeira.
133 x 50 cm.
Aprender a aprender, 2018.
(detalhe)
Aprender a aprender, 2018.
(detalhe)
É uma composição com treze quadros, que existem de maneira isolada, mas que quando montados juntos compõem a série arruinar a ruína. São quatro imagens maiores retangulares, na disposição vertical colocadas lado a lado. A primeira, arruinar a ruína – I, tem, na parte de cima, o texto WE RE (nós somos) em preto e com grande espaço entre as letras. Há uma textura de fundo feita de pretos e vermelhos, e sobre ela uma camada enevoada branca, que deixa o fundo transparecer. No centro, em vermelho, destaca-se a representação sintética das genitais de um corpo que foi apagado, outros vestígios de cor desse mesmo corpo reaparecem marcando um ritmo. Nas bordas, linhas pretas com traços em idas e vindas, que se concentram na base e parecem uma moldura de nuvens negras. Há a textura do respingo da tinta spray e linhas de tinta escorrida. Do lado esquerdo, rente à borda do suporte, há três flores com cabo e pequenas folhas, uma acima da outra, feitas com a deposição de generosa matéria de tinta vermelha, formando uma margem de ornamentos. Do outro lado, o mesmo acontece, mas as flores se iniciam bem no topo da imagem. Vê-se uma margem branca irregular, que revela o fundo do suporte e ladeia toda a composição. Sobre esse quadro, há duas telas menores, quadradas: a primeira, selva, ou mata rubra, é feita de tinta vermelha, que se soma à textura do suporte de papelão; na parte inferior, há nuances de preto. As linhas são como pelos, como mato, e há um pequeno sol negro, acima e à direita. Há uma borda branca do suporte, uma linha de contorno falha em preto, e em muitos momentos o vermelho avança sobre esse contorno, numa textura de linhas paralelas, e se destaca a mancha vermelha, que transborda, na porção esquerda inferior. A segunda tela, ñ sou nem eu, menor e quadrada, também possui uma margem branca, feita de muita matéria de tinta, e uma linha preta matérica separa o branco do vermelho, que cobre toda a tela, acompanhado de nuances de preto. O excesso de matéria deixa os contornos irregulares e também revela que o gesto de depositar tinta muitas vezes remove a própria tinta, misturando os planos, as etapas da pintura. Numa linha um pouco abaixo do centro, há dois olhos abertos, feitos em preto e branco, no entorno do olho à direita, há mais preto, que insinua uma sombra sobre um rosto, mas não faz perder a sugestão de ser um rosto plano. A segunda tela maior, arruinar a ruína – II, tem uma margem de contorno irregular, feita em tinta spray preta, e um fundo branco, com um casal de homens desenhados em bastão a óleo vermelho-alaranjado, em um enquadramento que mostra seus rostos e torsos de perfil, estão de olhos fechados, se beijam. O homem da direita tem cabelos e barbas curtos e segura com sua mão esquerda o pescoço do outro homem, que é careca e enfia sua língua na boca do homem à sua frente, e também lhe dá um abraço, pois vemos sua grande mão esquerda sobre o ombro do outro. Sobre seus torsos, com linhas de tinta spray preta, que variam de espessura e escorrem pela tela, vemos a inscrição were gonna put it together (‘nós vamos colocá-lo juntos’). Sobre esse quadro, um tríptico, intitulado é isto um homem?, composto por imagens retangulares, no sentido vertical, dispostas lado a lado, em que se destaca a textura ondulada do suporte de papelão. A primeira, à esquerda, tem o fundo branco e deixa transparecer vestígios de uma camada anterior de tinta preta. Há também marcas de um contorno em preto, coberto, e uma margem fina, de espessa tinta vermelha. Centralizado e ocupando quase todo o quadro há o desenho de contorno de um pênis com o saco escrotal, apontando para cima, feito com tinta spray preta enevoada. Dentro desse contorno, há uma faca apontando para cima, feita em tinta vermelha, com o fio de corte apontando para a esquerda. Sobre o corpo do pênis e a lâmina da faca, que está em seu interior, está escrita, no sentido horizontal, com uma espessa linha de tinta branca, a palavra membro. A segunda imagem desse conjunto tem também o fundo branco, com pequenas porções de tinta vermelha. Há uma fina margem irregular de tinta vermelha. No centro e apontando para cima, vê-se um dildo composto de quatro esferas, com seus volumes representados em valores de vermelho, e em volta dele há um contorno oval, feito de tinta preta, respingada. A terceira imagem desse conjunto tem uma borda irregular, um fundo branco, que, às vezes, revela as cores de camadas anteriores e, em outros momentos, mostra misturas que ocorreram no próprio quadro. Há uma fina, matérica e irregular, margem vermelha. Tocando essa margem, as linhas de contorno de um pênis com o saco escrotal, apontando para cima, largo, feito com tinta spray preta, com densidade variada do traço, e espalha uma névoa cinza, na parte superior da imagem. Dentro dessa figura, há a representação de um pênis com saco escrotal, aqui representado com luz e sombra, com valores de vermelho; no entorno deste volume, se destaca uma movimentada textura de tinta branca. Um pouco acima do meio dessa tela, de uma lateral a outra, está escrita, com finas e matéricas linhas brancas, a palavra escombro. A terceira imagem maior, viveiro, mostra um corpo feminino feito de muitas linhas trêmulas de matizes de vermelho, que, quando se sobrepõem, sugerem uma roupa feita de véus. A figura está de joelhos, o enquadramento mostra até seu torso, tem as mãos apontando para baixo, como em prece, e entre elas segura um peixe, cuja cauda aponta para cima. Delas, brota uma flor de matéria negra, com três folhas; do centro da flor, brota uma estrela matérica branca; e no topo da flor há uma ave de asas abertas, que tocam a figura de um ombro a outro, ela parece sair ou entrar de uma invaginação no peito da figura. Sobre cada uma das coxas, há uma flor vermelha e matérica. Sobre todo o corpo da figura, há estrelas feitas de linhas espessas de tinta branca. Sobre o fundo, há um ritmo composto por inúmeros pontos de tinta branca, densa. Sob os joelhos, uma sombra vermelha; e logo acima, numa linha circular, lê-se em preto isto que estou vivendo é criança; e em preto, também, uma fina margem irregular contorna o suporte. Acima duas imagens quadradas, uma ao lado da outra. A primeira, à esquerda, sem armas, o frágil repousa ou o que pode um homem?, com duas linhas de margem, a mais externa vermelha e, depois, uma preta em que a tinta escorre e reforça a textura do suporte de papelão. Há, na porção inferior, uma mão esquerda, em vermelho, espalmada, segurando uma genitália masculina flácida. O polegar aponta para cima, com inúmeras pequenas linhas gravadas na tinta, revelando o fundo preto, representando a textura da pele e o desenho das unhas. Na parte superior, em preto, dividida em duas linhas, e sobrepondo-se à mão, a inscrição o medo é pai do, sendo que o complemento da frase foi borrado com tinta branca. À direita, na segunda imagem, ventre, cinco dedos de uma mão adentram a borda inferior do quadro. Há a sugestão de volume no desenho, com os valores de vermelho; o fundo é branco, aqui as margens vermelha e preta se misturam. Na parte superior está escrito em vermelho sendo (rasura), e em uma segunda linha, em preto, entranhas não olhos. A quarta e última imagem maior mostra uma figura masculina, feita de linhas pretas, gravadas na matéria de tinta, ela está ajoelhada próxima à margem esquerda, parece olhar para a sequência quadros que a antecede, a imagem flameja com a mistura de tons de vermelho,  que acontece sobre o suporte. Áreas de pinceladas gestuais de preto acontecem nas laterais da imagem e de modo mais marcado na base do quadro. No centro e à direita, há um ramo negro pequeno, com três flores e uma massa de raízes, mais acima, um ramo de duas flores e uma flor maior com folhas. Pela superfície da tela, há finas linhas gravadas na matéria. Abaixo, à direita, há três linhas negras com gravação bem marcada. Sobre essa tela há duas outras menores, quadradas: a primeira à esquerda menor, 1 corpo q fala, com duas margens, vermelha e preta, fundo branco, e uma boca aberta, como se estivesse falando, toda em vermelho. O desenho da boca, dentes e língua são feitos de linhas gravadas na espessura da tinta fresca, revelando a cor preta ao fundo, assim como pontos e linhas que partem como raios a partir da boca. Na segunda imagem, flor apunhalada, um pouco maior, com fundo branco, há várias bocas semiabertas com a língua para fora, numa composição que é quase modular. Há um eixo central, em que três pares de línguas se tocam, um abaixo do outro, sendo que essas bocas possuem as cores preto, branco e vermelho, constituídas pela mistura de tinta a óleo e bastão a óleo. Ainda no eixo central, uma terceira boca também toca as outras línguas, vinda de cima, sobre cada um dos pares anteriores, feita da gravura de linhas sobre a tinta fresca. Nos espaços vazios, na mesma textura de linhas gravadas, há pequenas estrelas ou explosões. Novas fileiras de bocas coloridas apontam a língua para fora do quadro, indicando buscar novos toques, entre elas bocas abertas e fechadas, gravadas sobre a tinta, preenchem a composição.
Arruinar a ruína, 2020
Tinta à óleo, bastão à óleo e spray s/ papelão e tela.
Dimensões variadas.
Arruinar a ruína, 2020
(detalhe)
Arruinar a ruína, 2020
(detalhe)
Arruinar a ruína, 2020
(detalhe)
Um quadro maior à esquerda, retangular, com orientação vertical, feito em preto e branco e de suas nuances, com texturas variadas, como tinta espessa, com linhas gravadas no impasto e tinta diluída escorrida. Apresenta um corpo olhando para si mesmo, e vendo a base do tronco, a perna esquerda, com o joelho dobrado, projetando-se em direção às sombras de um chão negro; e a perna direita voltando a sola do pé para si. A mão direita segura com leveza esse pé, enquanto a mão esquerda corta com uma faca o eixo central da sola, de uma extremidade à outra. Ao lado, alinhado pelo topo, um outro quadro menor, porém com mesmo formato e orientação, apresenta um fundo preto, matérico, uma linha de margem branca, com pontos de tinta em toda sua volta, cinco conjuntos de linhas convergentes representam estrelas. A linha virtual que liga o centro das estrelas é sinuosa, cada estrela cresce em linhas trêmulas, e em diferentes tamanhos. A estrela mais acima, assim como a mais abaixo, tem seu desenho cortado pelo enquadramento, o que reforça uma sugestão de movimento. Algumas manchas de vermelho aparecem no quadro, sendo que a maior é uma linha que corta a sua borda superior, no centro.
lygarseaterra, 2015-2018
Diptico.
Tinta à óleo, bastão à óleo e carvão s/ tecido. 85 x 115 cm.
Tinta à óleo, esmalte sintético e spray s/ tela. 38 x 56 cm
Uma imagem retangular, com orientação horizontal, composta por uma sobreposição de diversos suportes, tamanhos, cores (do branco ao preto, passando por marfins e cremes), com diferentes desenhos e técnicas. Da extrema esquerda superior para baixo, uma estrela branca de muitos raios sobre um fundo preto; um jardim de pequenas flores, feitas de linhas grossas pretas, o fundo creme do papel ressalta as massas de tinta branca; essa imagem se sobrepõe a outra, de tamanho maior, que representa duas mãos e um fragmento de vestuário com longas mangas, feitas em hachuras desordenadas sobre um papel envelhecido. No canto inferior, pequenos desenhos, como um castelo e um poço. Mais à direita, sob um rasgo do papel, um retrato de Bob Marley, seguido de uma paisagem. Seguindo uma linha para o alto, uma mão em um gesto de oferenda, feita de linhas negras, folhas, plantas. Mais acima, destacam-se duas plantas e uma mão segurando uma terceira, junto com um punhado de terra. Grandes estrelas feitas de uma massa de tinta branca, em um cruzamento de linhas, que provocam uma mancha de óleo em seu entorno, sobrepõem-se às imagens do quadro em diferentes pontos, marcando um ritmo. Em uma linha descendente, muitos sóis desenhados de maneira simples; um pequeno retrato, com uma linha grossa de tinta spray e um recorte de um desenho de planta; outras plantas, sendo uma com múltiplas pequenas folhas de contornos pretos; e outra verde, com seus dois ramos entrelaçados por uma serpente vermelha; muitas texturas para um céu negro. Numa linha paralela ascendente, uma planta também colorida; vários ramos unidos por uma espiral vermelha. Acima, um quadrado escuro com uma chama e uma forma circular; uma planta similar a anterior, mas com menos elementos, estrelas brancas; uma escada de linhas pretas; dois pés como se entrassem pela borda superior, com massas de branco ao seu redor e estrelas brancas sobre eles. Ao lado, o maior quadro que compõe essa imagem, com uma grande serpente negra enroscada em um galho reto ou mastro, um preto denso no seu entorno. Abaixo, também com fundo negro, duas plantas: uma composta por um ramo simples e outra com duas flores, que estão se despetalando. Ao lado, um recorte de fundo preto; e, em direção ao topo da imagem, já em sua extremidade direita, uma folha de papel em branco, com apenas uma borda de preto. Mais uma vez, dois ramos verdes entrelaçados por uma serpente vermelha; manchas de cor que lembram uma paleta; dois pés, que parecem adentrar a tela pela sua borda direita, envoltos por uma massa branca de tinta e cobertos pelas grandes estrelas brancas; vestígios de preto de papéis ao fundo; uma folha creme; e, ao lado, uma branca com dois traços de tinta spray preta.
Burning down paradise, 2019
Tinta à óleo, bastão à óleo, monotipia, xerografia, serigrafia, carvão, caneta esferográfica, caneta permanente, grafite, lápis de cor, spray, carvão, nanquim e colagem s/ papel. 200 x 100 cm.
Burning down paradise, 2019
(detalhe)
Burning down paradise, 2019
(detalhe)
Um chão de terra, uma pequena casa feita de pranchas de compensado, que demonstram o desgaste do tempo. E sobre a parede, dois quadrados: o primeiro, à esquerda, com o desenho de um carrinho de brinquedo com recortes para encaixes que auxiliam as crianças a distinguir formas; o segundo, com o desenho de um triciclo de plástico. Ambos com muitas nuances de cinza representando os volumes, desenhados com carvão nas cores preto, cinza e branco. Abaixo dos desenhos, a inscrição, com carvão branco: entretanto me sinta grande, tamanho de criança, tamanho de torre.
Mera metade de nada, 2012
Tinta acrílica e carvão na fachada de casas da ocupação raízes da praia, Fortaleza/CE.
Uma imagem em formato retangular e orientação horizontal, com várias camadas sobrepostas de diferentes formatos e materiais de inscrição. Linhas em preto e cinza atravessam os diferentes suportes. Sobre essas linhas, no topo à direita, um mapa antigo, com papel já escurecido, envelhecido, uma foto escura de uma rua, com uma silhueta de uma pessoa correndo, pintada em preto. Abaixo, sobre papel branco, uma mancha preta com linhas brancas e um desenho sintético de uma coluna vertebral. Mais abaixo, à esquerda, pequenos pés sobre uma folha com uma inscrição; ao lado, mais fragmentos de um mapa, um desenho de uma mata e um desenho de uma planta. Por cima das linhas pretas e cinzas, no centro do quadro, um olho preto, com íris branca. Ao lado, em linhas pretas sobre um fundo creme, o desenho de uma mão com algema. Acima, linhas que sugerem uma escrita, com spray preto; ao lado, uma grossa linha de spray da mesma cor sobre papel creme. Abaixo, um rasgo no suporte das linhas pretas e cinzas, uma imagem fotocopiada coberta com spray preto e uma imagem de pernas correndo. Mais abaixo, outro mapa antigo, com manchas de óleo; linhas pretas finas desenham dedos de uma mão, que se separam em dois fragmentos de papel quadrado. De baixo para cima, fragmentos de suporte creme e preto, e desenhos de garrafas e de uma grade. Pontos brancos sobre um fundo preto sugerem um céu estrelado; sobre essa imagem, uma outra mão algemada. E, por fim, uma superfície em pretos de diferentes tons.
Malditas sejam todas as cercas, 2019
Tinta à óleo, bastão à óleo, monotipia, xerografia, caneta permanente, grafite, lápis de cor, spray, carvão, nanquim e colagem s/ papel. 142 x 100 cm.
Malditas sejam todas as cercas, 2019
(detalhe)
Vista geral da instalação “o que deveria ser compreensivo” no primeiro piso do Museu de Arte da Pampulha. Com o chão amarelo, as paredes curvas revestidas de mármore verde claro, grandes pilares de aço inoxidável, e tudo refletido por um grande painel de espelhos ao fundo. Da esquerda para a direita, painéis de madeira, cobertos por inúmeras pequenas fotografias de um inventário de achados; um palete com pequenos objetos e materiais dispostos sobre suas ripas; pequenos conjuntos de objetos e materiais encontrados, formando núcleos de presença e interesse no espaço do museu. Os fragmentos, de diferentes tamanhos, trazem uma memória de cidade: metais, tijolos, latas de tinta, revestimentos, roupas. Cada material combinado a outros tem uma força de semente, as construções parecem crescer como plantas no espaço. À direita, as composições começam a desafiar a gravidade, tornando-se mais altas, com construções simples em madeira que se inclinam em direção a um patamar de passagem para o segundo piso.
O que deveria ser compreensivo, 2013/2014
Instalação realizada durante o Programa Bolsa Pampulha. Dimensões variadas.
Duas lascas de tinta de parede sobre um chão amarelo desgastado. À frente, uma fotografia de uma ponte de tábuas pretas e, na sequência, uma fotografia da base de uma árvore, plantada em uma calçada, colocada sobre uma chapa de zinco amassada, rasgada, furada, que serve como uma pequena rampa para um pequeno tablado quadrado de madeira. Sobre o tablado, um bloco de concreto no mesmo formato, porém menor. Sobre ele, um elo de corrente partido ao meio, um osso, um bloco de madeira retangular, de tom alaranjado, que se projeta para cima e, sobre ele, se encaixa uma lajota de concreto. Chamam a atenção as bordas dos materiais, quando são quinas bem acabadas ou quando possuem irregularidades. Ao fundo, uma parede de pedra verde clara leitosa, com veios.
O que deveria ser compreensivo, 2013/2014
Instalação realizada durante o Programa Bolsa Pampulha. Dimensões variadas.
Diversas estruturas que agregam diferentes tipos de madeira, em diferentes alturas. Da esquerda para a direita, há uma grande seta de madeira na ponta de um alto e estreito cavalete de base assimétrica e cor escura; ao lado, um bloco de concreto sobre um pequeno cavalete de madeira, ambos apoiados na parede, feita de grandes blocos de pedra, verde clara. À frente desse conjunto, um bloco de concreto no chão; à sua direita, sobre um paralelepípedo de onde sai uma pequena tira de barbante, outro bloco de concreto com pedras na argamassa, e formato pontiagudo. À frente de toda a composição, um fragmento de um pequeno caixote com partes carbonizadas; sobre ele, objetos ainda menores, como uma pequena caixa de fósforo e uma lente de vidro. Ao lado, um tijolo sobre uma base de papelão e sobre ele uma lasca de madeira. Mais ao lado, um pequeno totem feito de pedaços de dormentes de madeira: uma base horizontal avermelhada, um primeiro segmento vertical de cor clara, coberto por uma ripa em forma de seta, e um segundo segmento de madeira mais escura, que se inclina para a frente. Atrás desse conjunto está uma estrutura média, um suporte que funciona como um pedestal simples, com pequenos fragmentos de madeira sobre ele; de sua base, parte um grande vetor de madeira, que se inclina sobre a parede, marcando o ponto mais alto do conjunto. Ao lado, também apoiando-se na parede, uma estrutura, um cavalete, alto, feito de ripas assimétricas, e com um bloco de concreto no topo. À sua frente, dois galhos que, amarrados por arame, formam um ângulo quase reto. Eles saem de dentro de uma garrafa de vidro marrom, com a boca quebrada, e que está sobre uma ripa, cinza, e sobre uma estrutura de cavalete estreita. No chão, ao seu lado, dois pregos enferrujados, de tamanhos diferentes, sobre uma pedra retangular, marcam o ponto mais baixo da composição. Por fim, à direita da imagem, fragmentos de louça azul e branca sobre uma base, um pedestal, composto por inúmeros fragmentos de madeira, com pé de três apoios, formando diagonais.
O que deveria ser compreensivo, 2013/2014
Instalação realizada durante o Programa Bolsa Pampulha. Dimensões variadas.
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erre erre
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título
erre erre

erre erre é artista visual, designer gráfico e editor da ‘fera miúda edições’. Realiza trabalhos que transitam entre desenhos, colagens, pinturas, gravuras, instalações e impressos. Valendo-se tanto de produções autorais, quanto de apropriações de imagens e/ou elementos já em circulação. Uma prática que se orienta por encontros e choques; por contingências, confluências e desvios.

Proposta de criação

plantas
desenho de observação, composição, pesquisa de materiais e superfícies de inscrição, impresso, memória

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Publicado em 11 de novembro de 2021

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