Dayane Tropicaos
Para onde essa nossa conversa me leva?
por Dani Maura
Esse não é um texto sobre certezas.
É mais sobre ser artista e olhar para a indefinição desse campo.
Também sobre a possibilidade de se propor ações de maneira direta e por meio da prática de uma visão de mundo.
Sobre a perspectiva de se propor debates por meio de obras e de exposições.
Apropriar-se da escrita de textos que apresentam o trabalho para o mundo.
Sobre criar contextos para as obras que permitam ampliar seus sentidos, com as histórias das instituições somando significados.
Refletindo sobre a relação com os lugares, considerando agir de diferentes maneiras em diferentes lugares ou sobre como não cristalizar os meios e os modos.
Cabe, ainda hoje, uma ocupação ingênua?
Faz um tempo que tenho pensado sobre maneiras de se abordar o processo de criação. Ao longo da minha trajetória me deparei primeiro com a ideia da “poética do fazer'', de como os materiais e processos abrem questões que mobilizam a criação; em um segundo momento, o que chegou foi a pergunta “qual é seu conceito?” e, em um terceiro momento, atuando como professora, passei por uma instituição que, em sua prática, me fez refletir sobre qual era a visão de mundo que estava implicada no fazer artístico e, mais do que isso, qual era o modo de vida que esse fazer potencializava. A ideia, aqui, não é propor que uma maneira suplante as outras, mas sim levantar possibilidades que coexistem e que melhor se adequam, segundo as próprias questões, necessidades e contextos. Esse olhar para as maneiras de abordar o processo não cessou por aqui, e isso pode ser assunto para um outro momento, pois o que quero destacar é que seus modos me fazem refletir (e muito) sobre as realidades que podem ser criadas por um fazer artístico que se responsabiliza pela visão de mundo que apresenta e os modos de vida que pratica. Talvez eu dissesse que você desenha mundos, recuperando a ideia de desígnio que há na estrutura de pensamento da palavra desenho. Mal acabo de pensar isso e suponho que talvez você seja uma contadora de histórias. O que me faz pensar no modo como carrega uma incerteza de estar fazendo a coisa certa ou da melhor maneira. Essa incerteza como bússola é uma potência, porque é um cuidado em não dizer pelo outro; em, na luta, não pisar nos companheiros; em não se ferir ao questionar as estruturas. Isso implica em colocar diferentes instâncias em diálogo, considerar relações de escala, e também em uma abertura para o risco, talvez necessária para quem, por meio do fazer artístico, expressa pontos de vista no debate público. Cabe, ainda hoje, uma atitude ingênua?
Dayane Tropicaos, artista visual, começou produzindo vídeos e fotografias buscando diálogo com a cidade de Contagem, onde nasceu e desenvolveu seus primeiros trabalhos. Além da produção de obras a artista busca questionar o lugar da Arte na sociedade, criando propostas para espaços fora da galeria, acredita que a arte pode ser vivenciada também na rua e em espaços comuns. Em seus trabalhos investiga a ficção do eu e do agora usando a fotografia, o vídeo e a instalação.
Proposta de criação
desenhos de mundos a partir da própria história
singularidade, identidade, relação com contextos sociais amplos, questões de raça, classe e gênero, escrita e investigações de suporte, técnicas e mídias
Publicado em 05 de maio de 2022